quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Caber

Querido,

Às vezes nos tornamos um calçado que não cabe mais. Apertamos os calos de alguém. Provocamos bolhas. Fazemos doer as solas. Simplesmente deveríamos ter partido, e por algum motivo não fomos. Nem mesmo nos demos conta das mudanças. 
Quando resolvemos abrir os olhos, simplesmente... tarde demais.
Então ficamos largados pelos cantos, com semblante de coisa usada, cheia de memórias e para por aí. Somos apenas lembranças de um passado bom, mas já não cabemos no presente. O presente. 
Querido, não deve ser fácil pra você também. Joaninha nunca mais lhe deu notícias? Fico me perguntando qual o motivo. Ela deve ter um. Fico me perguntando se um dia encontraremos nosso lugar em alguém. 

Beijos da sua.

sábado, 9 de junho de 2012

mudanças

Querido,

Mudamos. Mudamos muito ao passar dos tempos. Algumas mudanças são forjadas por nós mesmos, para que possamos fugir de alguns abismos evidentes. Outras são verdadeiramente transformadoras e fazem ainda mais sentido conforme o tempo passa.
Essas mudanças que nos trazem ao caos, e em seguida ao esclarecimento mais profundo. Essas que chegam sorrateiras, pegam-nos desprevenidos, e mudam a gente dos pés a cabeça, sem que houvéssemos pedido, tentado, imaginado, nos preparado. Essas são as reais mudanças, capazes de destruir castelos e construir caminhos.
Sentada aqui no sol, em beira mar, sob o silêncio do latido do cachorro, eu lhe digo tudo isso. Aquele nosso último telefonema foi uma festa e ao mesmo tempo a minha morte. Nunca imaginei-me tão confusa quanto naquele dia. De nada mis eu tinha certeza, nem mesmo do meu próprio nome. Era tudo passível de discussão, de dúvida. Todos os lados pesavam e pendiam, e eu, sinceramente, parecia uma bobinha da corte.
Não que eu esteja diferente agora. Ainda existem profundas incertezas, mas elas não me atormentam mais. Acho que pelo menos meu nome e um pouco mais de mim eu lembrei, ou reformulei. Dei novo significado a minha vida. E estou começando, bem no início mesmo, a dar novos passos, tal como um bebê.
Tenho ouvido muito, falado menos, fazendo juz a quantidade de boca e ouvido que nos foi concedida. Tenho procurado não julgar, e me colocado num lugar onde só sei de mim e só posso pensar no que pra mim será melhor. De uma forma mais generosa que egoísta.
Essas mudanças que não são anunciadas meu querido. Essas nos destróem, para em seguida nos reconstruir. Encare sua nova fase assim também meu amor. Joaninha de asas pequeninas não podia esperar. Não foi por menos amor. Preencha sua saudade e faça valer sua vidinha. Não espere que um dia ela volte. Mas não a negue um retorno sincero. Apenas viva. Caminhe. Deixe que o caminho o transforme e não seja relutante. A vida às vezes, é mais sábia, e nos movimenta a passos largos.

Se essa não foi a melhor, foi certamente a mais longa carta que já lhe enviei!

Com amor!!!!

domingo, 11 de março de 2012

poesiando

A solidão profunda. O silêncio da palavra não dita. Queria-se ter ouvido. Um lindo pôr do sol e o desejo secreto de morrer naqueles mesmos braços. Num abraço último de para sempre. Na saudade maldita e insistente. Na tentativa vã do dito ser amado. Ter tido amado. Amado. Amou.

Resolvi brincar de poesia querido!

Da sua, Tartaruguinha!

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

quanto tempo

Querido meu querido,

Sou refém do meu silêncio às vezes. Fico atada a mim, e a essa minha misteriosa solidão inerente. É duro e prazeroso estarmos sós, diante de nós mesmos e ninguém mais. Gosto de usar esse tempo até gastar todas as vozes que acoam em minha cabeça, até deixar reinar aquele silêncio genuíno de quem já conseguiu compactuar com sua própria presença. Por isso eu não escrevo nessas horas. Porque escrever já seria falar, ouvir, pensar. Uma agressão ao meu calar de bocas. 
Mas não pense que eu não tenho o que contar. Aliás, quanto menos eu falo, mais eu tenho pra contar. Porque o mundo meu caro amigo, anda avassalador. As pessoas criam e recriam histórias para dar sabor aos momentos, e eu quenão tenho pressa, apenas aprecio a velocidade dos acontecimentos, e nomelhor dos momentos, não faço nenhum comentário em voz baixa!

Com amor da sua e sempre sua
Tartaruguinha!